Memória do Som: Rock in Rio 1985 (Eu estava lá)
- Gerê Alves
- 22 de jul. de 2016
- 4 min de leitura
Este foi o primeiro evento de um dos maiores festivais de Rock'n Roll do mundo e eu estava lá. Todos os dias. Presente em todos os shows. O início da maratona de shows teve início no dia 11 de janeiro de 1985 na antiga Cidade do Rock, localizada em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O Festival durou 10 dias com um total de 1 milhão e 380 mil espectadores. Segundo o idealizador do festival, o empresário e publicitário brasileiro Roberto Medina, foram gastos cerca de 11 milhões de dólares na organização do evento. O festival foi responsável por convencer gravadoras, empresários musicais e a imprensa de que o rock era um mercado rico ainda a ser explorado.
As bandas estão listadas em ordem reversa, da última da noite à primeira. O Whitesnake foi uma adição de última hora para substituir o Def Leppard, que cancelou após um acidente com o baterista Rick Allen.

Programação:
11 de janeiro de 1985
270 mil pessoas
Queen, Iron Maiden, Whitesnake, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso
12 de janeiro de 1985
250 mil pessoas
George Benson, James Taylor, Al Jarreau, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Ivan Lins
13 de janeiro de 1985
110 mil pessoas
Rod Stewart, Nina Hagen, The Go-Go's, Blitz, Lulu Santos, Os Paralamas do Sucesso
14 de janeiro de 1985
30 mil pessoas
James Taylor, George Benson, Alceu Valença, Moraes Moreira
15 de janeiro de 1985
300 mil pessoas
AC/DC, Scorpions, Barão Vermelho, Eduardo Dusek, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens
16 de janeiro de 1985
180 mil pessoas
Rod Stewart, Ozzy Osbourne, Rita Lee, Moraes Moreira, Os Paralamas do Sucesso
17 de janeiro de 1985
70 mil pessoas
Yes, Al Jarreau, Elba Ramalho, Alceu Valença
18 de janeiro de 1985
250 mil pessoas
Queen, The Go-Go's, The B-52's, Lulu Santos, Eduardo Dusek, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens
19 de janeiro de 1985
280 mil pessoas
AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Erasmo Carlos, Baby Consuelo e Pepeu Gomes
20 de janeiro de 1985
200 mil pessoas
Yes, The B-52's, Nina Hagen, Blitz, Gilberto Gil, Barão Vermelho
Jamari França, jornalista que cobriu o festival de 85 para o Jornal do Brasil, revive a primeira edição do festival. Confira como foi o dia 19 de janeiro de 1985:
Quatro atrações pesadas levaram 380 mil pessoas ao penúltimo dia do Rock in Rio – o hard rock de Whitesnake e AC DC, o heavy metal dos Scorpions e o papa do metal satânico Ozzy Osbourne. Os brasileiros Baby Consuelo e Pepeu Gomes enfrentaram o radicalismo dos headbangers e o show de Erasmo Carlos foi poupado da agressividade que o atingiu no dia 11. Seu show ficou para amanhã, encerramento do histórico festival.
Os metaleiros vieram a caráter, mas a segurança apreendeu facas, pulseiras com tachas pontiagudas e até uma caveira. Pepeu e Baby, com visual colorido e canções pop, eram fortes candidatos a vaias, mas Pepeu mostrou seu lado guitar hero nas instrumentais Malacaxeta e Blue Wind (Jeff Beck), para depois cantar o hit Masculino Feminino e breguices similares. Sua grávida mulher, Baby Consuelo, se impôs aos gritos de RA do guru Thomaz Green Morton, e levou seus Meninos do Rio em relativa tranquilidade.
Whitesnake do ex-Deep Purple David Coverdale prometeu muito barulho e cumpriu, principalmente pela guitarra virtuosa de John Sykes e os trovões da bateria de Cozy Powell. Uma hora corrida de show com quatro canções do álbum Slide It In, incluindo o hit Love Ain’t No Stranger e um show solo de Sykes no blues Cryin’ in the Rain. Intervalo e, de repente, escuridão e Oh Fortuna, da ópera Carmina Burana, de Carl Orff, anuncia Sua Majestade Satânica, Ozzy Osbourne, a endoidar a multidão com gritos de “Smoke some more weed”, “Go fucking Crazy” e “Is Everybody High?” Ele parecia estar tudo isso e detonou 63 minutos da carreira solo, incluindo Mr. Crowley, I Don’t Know, Journey to the Centre of Eternity e outras. Ozzy tem fama de comedor de morcego, uma vez mordeu um de verdade num show. De repente materializou-se no palco uma galinha branca, Ozzy olhou incrédulo, um roadie a tirou de cena, a bicha voltou e Ozzy a levou ilesa para o backstage. O show terminou com duas do Black Sabbath, sua ex-banda, Iron Man e Paranoid, com Crazy Train entre elas.
Os alemães do Scorpions se garantiram em sucessos como Still Loving You, At The Zoo e Rock You Like a Hurricane. Muitos solos de guitarra, porradaria solo de Herman Rarebell na bateria e muita incitação da massa pelo vocalista Klaus Meine. Finalmente o headliner, AC DC, com o melhor guitarrista da noite, Angus Young. O show foi menor que o do dia 15, 14 músicas em vez de 17, mas a performance teve o mesmo vigor, com solos ensandecidos, strip-tease, o enorme sino de Hell’s Bells e os canhões de For Those About to Rock (We Salute You). Uma despedida estrondosa da histórica noite do rock pesado no festival.
O engraçado é que as únicas evidências de que vivi estes 10 dias intensamente são a minha prima Zezé e meu grande amigo Domingos. Afinal fiquei hospedado, na época, no apartamento deles em Jacarepaguá no Rio de Janeiro. E a outra pessoa é o Nando, amigo que trabalhava comigo na Rádio Cidade e que recebeu um telefonema meu, de um orelhão de dentro da Cidade do Rock, contando o que estava acontecendo no local. Este momento, com certeza, faz parte de minha história musical.
Fontes: Wikipedia e http://rockinrio.com/rio/blog/rock-in-rio-1911985/
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