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Os discos de minha vida

  • Foto do escritor: gererib10
    gererib10
  • 8 de ago. de 2016
  • 3 min de leitura

Disco: John Lee Hooker & Canned Heat – Hooker’n Heat (1971)

Texto: Celso Pucci para discoteca básica da Revista Bizz – Edição 75 de Outubro de 1991.

Aqui o blues não tem os tradicionais doze compassos. Trata-se de uma levada mântrica, hipnótica, que flui livremente ao sabor dos riffs de guitarra e das profundas modulações vocais de John Lee Hooker.

O inventor do boogie "de-uma-nota-só" foi para o blues de Detroit o que Muddy Waters e Howlin' Wolf representaram para o de Chicago. Como eles, vindo do Mississippi, Hooker partiu das raízes rurais para iniciar-se no processo de eletrificação do estilo que originaria o rock'n'roll. A essência da coisa toda já estava na interpretação/guitarra/footstomp e na expressividade da voz de Hooker sempre temperada com as tiradas sacanas das letras e os impagáveis "hey, heys" e "yac, yacs".

Não é à toa que suas canções foram revisitadas por tantos: dos Stones e dos Animals até Nick Cave e Cowboy Junkies. A aproximação de Hooker com o rock veio desde 59, quando se apresentou pela primeira vez no festival folk de Newport. Foi seu passaporte para ser reverenciado por toda uma geração de músicos americanos e ingleses. Durante os sixties, ele expandiu sua influência pela Europa, com várias excursões e ocasionais gravações. Mas o ápice desta associação viria em 70, seu antológico registro com o quinteto californiano Canned Heat.

Encabeçado pelo gaitista/vocalista Bob "Bear" Hite e pelo multiinstrumentista Alan "Blind Owl" Wilson, o grupo era um "estranho no ninho" na cena psicodélica de Los Angeles. A começar pelas figuras de seus frontmen, chamados de "Urso" (pela obesidade) e "Coruja Cega" (pelos óculos fundo-de-garrafa que usava). Mas era o som o que os diferenciavam das bandas psicodélicas: um blues rock básico, de uma eficiência à toda prova, muito mais para Bourbon do que para ácido lisérgico. Sob estas condições, projetaram-se com louvor nos festivais de Monterey (67) e Woodstock (69).


Fonte: acidexperience.blogspot.com


Com uma posição consolidada em 70, o grupo foi encontrar Hooker vivendo na Califórnia, na época sem excursionar. Foi daí que surgiu a ideia de gravarem juntos. O espírito no qual rolaram estas sessões foi perfeitamente expresso nas liner notes da capa interna de "Hooker'n'Heat", o álbum duplo lançado no ano seguinte: "Uma vez no estúdio, experimentamos cerca de oito amplificadores antigos, até encontrarmos o som real de Hooker - um som que não se ouvia em seus discos havia muito, muito tempo... Um microfone no amplificador, outro para a voz e um para captar as batidas de seu pé - ele nunca pára de batêlos!

Não muito longe, uma garrafa de Chivas Regal e um copo d'água para torná-lo mais suave."

A partir deste esquema, Hooker gravou sozinho o primeiro disco do álbum: uma sucessão de clássicos como "Messin' With The Hook", "The Feelin' Is Gone", "You Talk To Much" e "Bottle Up And Go", envoltos em interpretações emocionadas. Como bons discípulos, os membros do Canned Heat foram aparecendo aos poucos só no outro disco: das discretas intervenções do piano e da guitarra de Alan Wilson em "The World Today" e "I Got My Eyes On You", respectivamente, até sua gaita comandando o resto do grupo para acompanhar o mestre na catarse de "Boogie Chillen Nr. 2".

O álbum também foi o epitáfio musical de Wilson, que morreu de overdose pouco depois de gravá-lo. Em 81 surgiu um disco homônimo, documentando novo encontro (ao vivo) de Hooker e o Canned Heat, já nas mãos de Bob Hite. Um belo registro, claro que sem a genialidade do anterior, mas igualmente fatídico: Hite sofreria um ataque cardíaco mortal no mesmo ano. Triste sina a da conjunção "Hooker N' Heat".


 
 
 

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 PERFIL:

Nome: Antônio Geraldo Alves Ribeiro (Gerê Alves)

Sou professor, educador ambiental e apaixonado por tudo isto e por música. Neste blog pretendo discutir, debater e compartilhar o melhor destes assuntos.

 

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