Obsolescência programada
- gererib10
- 11 de set. de 2016
- 3 min de leitura
O capitalismo como sistema econômico só é possível com a exploração do homem sobre o homem e do homem sobre a natureza. Mas a exploração ilimitada nos reduz a degradação e a poluição também sem limites (LOPES, 2010). Desta forma, manter o planeta em suas condições mínimas de sobrevivência digna para todos, não é possível. E a sustentabilidade em um sistema capitalista é contraditória e impossível.
A obsolescência programada
Para mover esta sociedade de consumo precisamos consumir o tempo todo e desejar novos produtos para substituir os que já temos – seja por falha, por acharmos que surgiu outro exemplar mais desenvolvido tecnologicamente ou simplesmente porque saíram de moda. Serge Latouche, no documentário A história secreta da obsolescência programada, diz que nossa necessidade de consumir é alimentada a todo o momento por um trio infalível: publicidade, crédito e obsolescência.
Obsolescência programada é o nome dado à vida curta de um bem ou produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido. É um mecanismo capitalista que surgiu nas décadas de 1930 e 1940 e faz parte de uma estratégia de mercado que visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de funcionar ou tornem-se obsoletos em um curto espaço de tempo, tendo que ser obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos. Isto lembra alguma coisa?
Sim! Aquela máquina de lavar que quando éramos crianças durava 30 anos, hoje é feita para durar apenas 2 anos. Isso é programado, sabe por quê? Para que após estes dois anos, outra seja comprada. O que significa que mais matéria prima será utilizada na confecção de uma nova máquina e claro, a antiga vai virar mais um resíduo em nosso planeta aumentando a quantidade de lixo de forma estúpida.
Nos anos de 1980/90 a obsolescência foi intensificada. Com o crescimento de alguns grupos sociais que começavam a pressionar mais fortemente as questões ambientais, foi necessário o surgimento de comissões, cartilhas e falsos conceitos de que o capitalismo, embora crescente, estaria então passando a se “preocupar” com esta questão.
É claro que algumas inovações tecnológicas favorecem a manutenção do ambiente e a permanência de sua saúde, controlando melhor determinadas emissões de poluentes ou minimizando o uso de alguns recursos naturais. Mas o que importa deixar bem claro é que essas funções não são o foco dos que comercializam essas tecnologias. Foram frutos de pressões sociais ou apenas alternativas para maiores lucros.
Não adianta querer investir em um carro que utiliza dois tipos de combustível achando que (só) isso é preservar o ambiente. Cada carro “flex” fabricado vem com novos 4 pneus, pneus estes que são fabricados a partir de 28 barris de petróleo. As tintas utilizadas na lataria também são oriundas de fontes fósseis, de novo o petróleo. Se fizer a continha matemática mais básica vai descobrir que seu carro gastou muito mais petróleo em sua fabricação do que queimará efetivamente em sua vida útil!
A lataria também é fabricada com diversos recursos minerais, muitos deles quase sem reservas mundiais atualmente devido ao uso desenfreado. Sem esquecer obviamente que as linhas de produção desses automóveis geram postos de trabalho cada vez mais precarizados, onde os trabalhadores são submetidos à jornadas de 12 e até 14 horas diárias, com remunerações vergonhosas para o aumento absurdo da produção com a finalidade de poder suprir o mercado. Mercado este que vive dos incentivos para que troquemos de automóvel todo ano! Um ciclo que se renova a toda instante... Será que realmente fez diferença benéfica para o planeta você investir no seu novo carro flex??
Ou o caro leitor acha que impostos reduzidos para carros novos são criados apenas por que o querem ver de carro novo, saudável, seguro e feliz? Quando você começa a desconfiar que haja algo de errado vem à mídia com o “marketing verde” e diz que você “precisa” de um carro novo para poluir menos e “ajudar o planeta”...mas nunca nas propagandas vêm falando da extinção e uso abusivo dos recursos para a fabricação desses mesmos carros. A poluição e exploração imorais que estão por trás do seu “eco carro” e a crescente taxa de lucros das montadoras.
Fonte:
LOPES, D. O desenvolvimento insustentável: capitalismo e natureza. CRESS, 6ª Edição. Belo Horizonte, 2010 <http://www.cress-mg.org.br/arquivos/simposio.pdf> Acesso em 02 de agosto de 2016.
Belle Ramos - Formada em Controle Ambiental pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca e Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
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